Jovem americana conta como escapou de abusos sexuais e espancamentos numa seita de fanáticos que pratica a poligamia
Enfim, uma família
Criada numa comunidade isolada da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Elissa foi obrigada a se casar com 14 anos e era espancada pelo marido quando se recusava a ter relações sexuais. O líder da seita a aconselhava a aceitar tudo de cabeça baixa. Hoje, casada com um marido de sua escolha, tem dois filhos e vai cursar faculdade. "Antes, o futuro para mim era a possibilidade de viver no paraíso após a morte", ela diz.
Durante toda a infância e a adolescência, a americana Elissa Wall, hoje com 23 anos, foi vítima de uma educação amparada em padrões morais esdrúxulos e recheada de humilhações e terror. Ela não podia ver TV, ouvir rádio nem ter namoradinhos. Sua família, poligâmica, era composta de um pai, três mães e 22 irmãos e meios-irmãos. Aos 14 anos, foi forçada a se casar com um primo, cinco anos mais velho – segundo ela, "a única pessoa que eu detestava". O infortúnio de Elissa decorre de ela ter nascido numa comunidade isolada da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma das diversas seitas dissidentes da religião mórmon, que ela abandonou há cinco anos. A doutrina mórmon foi cunhada nos Estados Unidos em 1830. Parte dos fiéis se amparava numa interpretação dos textos bíblicos segundo a qual um homem deveria ter mais de uma mulher. Em 1890, a poligamia foi abolida de seus preceitos, por pressão do governo americano, mas seitas dissidentes continuam a praticá-la até hoje. Há dois anos, a seita a que Elissa pertenceu virou notícia quando seu principal líder, Warren Jeffs, chamado pelos seguidores de profeta, foi condenado a dez anos de prisão por cumplicidade em estupro de menores. Elissa foi ao tribunal depor contra ele. No ano passado, a polícia desmontou uma das maiores propriedades da seita, no Texas. Houve prisões por poligamia e incentivo à pedofilia e mais de 400 crianças foram colocadas em custódia do estado por algumas semanas.
Elissa Wall relata o pesadelo de sua vida na seita no livro Inocência Roubada, recém-lançado no Brasil. Em depoimento a VEJA, ela fala do ambiente em que era obrigada a viver. O líder da seita tem o poder de determinar os casamentos e também de remanejar as famílias quando avalia que um homem não lida adequadamente com suas esposas e filhos. Elissa passou por essa situação. Aos 9 anos, viu sua família ser separada por ordem do profeta. "Quando meus irmãos adolescentes começaram a questionar o controle absoluto do profeta em nossa vida, meu pai passou a ser considerado um homem incapaz de tomar conta da família", ela relembra. Junto com a mãe, ela e seus irmãos foram então entregues a outro homem, que já tinha quinze esposas e trinta filhos. As crianças tiveram de se afastar do pai verdadeiro e chamar o outro homem de pai.
Crime
A polícia invade sede da seita: crianças abusadas
O casamento de Elissa com o primo, Allen, durou quatro anos e foi o pior de seus calvários. Para uma adolescente que jamais havia sequer segurado na mão de um garoto, a atitude opressiva de seu marido com relação ao sexo era desesperadora. "Na noite de núpcias, Allen baixou as calças e disse que era aquilo que eu precisava para ter filhos. Fiquei apavorada", ela conta. Nos anos seguintes, sempre que resistia às investidas sexuais do marido, era espancada impiedosamente. "As leis da igreja não permitiam o uso de maquiagem, mas me tornei muito hábil com os cosméticos para esconder os hematomas", diz. Acreditando que a única pessoa que teria o poder de frear Allen era o profeta, Elissa o procurou para pedir ajuda. O conselho que ouviu de Warren Jeffs foi: "Reze, ame seu marido e passe mais tempo com ele". Em 2004, aos 18 anos, Elissa abandonou Allen e a seita. Hoje, com um novo marido e dois filhos, mora em Salt Lake City, no estado de Utah, onde está a maior concentração de membros da seita. Prepara-se para ingressar na faculdade de letras e pretende escrever outros livros. "O que mais me entusiasma é saber que eu e meus filhos temos um futuro", ela pondera. "Antes, futuro para mim era a possibilidade de uma vida no paraíso que recompensasse meu sofrimento na Terra."
Enfim, uma família
Criada numa comunidade isolada da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Elissa foi obrigada a se casar com 14 anos e era espancada pelo marido quando se recusava a ter relações sexuais. O líder da seita a aconselhava a aceitar tudo de cabeça baixa. Hoje, casada com um marido de sua escolha, tem dois filhos e vai cursar faculdade. "Antes, o futuro para mim era a possibilidade de viver no paraíso após a morte", ela diz.
Durante toda a infância e a adolescência, a americana Elissa Wall, hoje com 23 anos, foi vítima de uma educação amparada em padrões morais esdrúxulos e recheada de humilhações e terror. Ela não podia ver TV, ouvir rádio nem ter namoradinhos. Sua família, poligâmica, era composta de um pai, três mães e 22 irmãos e meios-irmãos. Aos 14 anos, foi forçada a se casar com um primo, cinco anos mais velho – segundo ela, "a única pessoa que eu detestava". O infortúnio de Elissa decorre de ela ter nascido numa comunidade isolada da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma das diversas seitas dissidentes da religião mórmon, que ela abandonou há cinco anos. A doutrina mórmon foi cunhada nos Estados Unidos em 1830. Parte dos fiéis se amparava numa interpretação dos textos bíblicos segundo a qual um homem deveria ter mais de uma mulher. Em 1890, a poligamia foi abolida de seus preceitos, por pressão do governo americano, mas seitas dissidentes continuam a praticá-la até hoje. Há dois anos, a seita a que Elissa pertenceu virou notícia quando seu principal líder, Warren Jeffs, chamado pelos seguidores de profeta, foi condenado a dez anos de prisão por cumplicidade em estupro de menores. Elissa foi ao tribunal depor contra ele. No ano passado, a polícia desmontou uma das maiores propriedades da seita, no Texas. Houve prisões por poligamia e incentivo à pedofilia e mais de 400 crianças foram colocadas em custódia do estado por algumas semanas.
Elissa Wall relata o pesadelo de sua vida na seita no livro Inocência Roubada, recém-lançado no Brasil. Em depoimento a VEJA, ela fala do ambiente em que era obrigada a viver. O líder da seita tem o poder de determinar os casamentos e também de remanejar as famílias quando avalia que um homem não lida adequadamente com suas esposas e filhos. Elissa passou por essa situação. Aos 9 anos, viu sua família ser separada por ordem do profeta. "Quando meus irmãos adolescentes começaram a questionar o controle absoluto do profeta em nossa vida, meu pai passou a ser considerado um homem incapaz de tomar conta da família", ela relembra. Junto com a mãe, ela e seus irmãos foram então entregues a outro homem, que já tinha quinze esposas e trinta filhos. As crianças tiveram de se afastar do pai verdadeiro e chamar o outro homem de pai.
Crime
A polícia invade sede da seita: crianças abusadas
O casamento de Elissa com o primo, Allen, durou quatro anos e foi o pior de seus calvários. Para uma adolescente que jamais havia sequer segurado na mão de um garoto, a atitude opressiva de seu marido com relação ao sexo era desesperadora. "Na noite de núpcias, Allen baixou as calças e disse que era aquilo que eu precisava para ter filhos. Fiquei apavorada", ela conta. Nos anos seguintes, sempre que resistia às investidas sexuais do marido, era espancada impiedosamente. "As leis da igreja não permitiam o uso de maquiagem, mas me tornei muito hábil com os cosméticos para esconder os hematomas", diz. Acreditando que a única pessoa que teria o poder de frear Allen era o profeta, Elissa o procurou para pedir ajuda. O conselho que ouviu de Warren Jeffs foi: "Reze, ame seu marido e passe mais tempo com ele". Em 2004, aos 18 anos, Elissa abandonou Allen e a seita. Hoje, com um novo marido e dois filhos, mora em Salt Lake City, no estado de Utah, onde está a maior concentração de membros da seita. Prepara-se para ingressar na faculdade de letras e pretende escrever outros livros. "O que mais me entusiasma é saber que eu e meus filhos temos um futuro", ela pondera. "Antes, futuro para mim era a possibilidade de uma vida no paraíso que recompensasse meu sofrimento na Terra."
Fonte: Revista Veja
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